maio 05 2021, 01:13
Por Aline Pedrazzi e Veridiana Mercatelli
“Agosto Dourado” é um nome mais que justo para o mês em que celebramos a importância do leite materno, o líquido “de ouro” que alimenta, nutre, ajuda a prevenir doenças e fortalece os vínculos afetivos entre mãe e filho. E vai além: contribui para um planeta mais sustentável. Tanto é que, neste ano, a Semana Mundial do Aleitamento Materno (SMAM), que aconteceu entre 1º e 7 de agosto, trouxe como tema a importância da amamentação para o meio ambiente. Afinal, o leite materno é o alimento mais renovável e seguro que existe. Sem contar que é totalmente de graça e ainda evita a geração de resíduos e desperdícios. “A alimentação de um milhão de bebês com a fórmula por dois anos requer, em média, aproximadamente 150 milhões de latas de fórmula. Latas de metal, se não recicladas, provavelmente acabarão em aterros, enquanto plástico, alumínio e o desperdício de papel geralmente acaba em nossos oceanos”, diz o documento divulgado pela SMAM 2020.
Mas tão importante quanto falar do aleitamento materno enquanto ação sustentável é criar a conscientização da sociedade como um todo sobre o apoio à lactante.
Estudos mostram que mulheres que recebem apoio espontâneo (sem que elas peçam) têm muito mais chance de continuar amamentando pelo tempo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A Organização preconiza que o aleitamento materno deve ser exclusivo até os 6 meses de vida do bebê e continuado até os 2 anos de idade ou mais, com a introdução dos alimentos sólidos complementares e ideais para a idade. Segundo estes estudos, muitas mães interrompem a amamentação antes do tempo recomendado por falta de apoio e informação adequadas. Ou seja, engana-se quem pensa que leite materno é assunto apenas de mãe-bebê. É, ou deveria ser, uma questão de todos. A falta de políticas públicas que incentivem o aleitamento materno (como a criação de uma licença parental — de mães e pais — prolongada, por exemplo) pode afetar negativamente na alimentação adequada de milhões de bebês todos os anos. Segundo a OMS, apenas 40% de todos os bebês nascidos anualmente são amamentados exclusivamente até os 6 meses.
Mas não dá para esperar somente ações efetivas do governo de apoio ao aleitamento materno. O nosso entorno é o primeiro local de acolhimento e faz muito a diferença.
Quando a Giu nasceu, tive uma dificuldade inicial com a pega dela. Eu me preparei muito para o parto, mas não para a amamentação. Como tive complicações no parto e precisei ficar cinco dias internada no hospital, usei este tempo a meu favor e pedi ajuda para as enfermeiras em todas as vezes que a Giu ia mamar. Quando voltei para casa, também procurei a pediatra diversas vezes, até acertar o jeito. Amamentei a Giu por 2 anos e só parei quando descobri que estava grávida da Pietra, que segue mamando. Mas acredito que não teria ido tão longe na amamentação se não tivesse o apoio das pessoas ao meu redor, tanto de profissionais como de pessoas com quem eu convivo. Minha mãe, por exemplo, chegou a dar comida na minha boca, de tão fraca que eu estava (tive anemia depois do primeiro parto). Quando a Pietra nasceu, ela e meu pai me ajudaram muito com a Giu também. E, claro, também tenho o apoio do meu marido.
Acredito que a sociedade como um todo deve olhar para as mães. A interrupção precoce da amamentação pode causar prejuízos não só para as crianças, que deixam de receber alimentação adequada e nutritiva, como também para as mulheres, que muitas vezes acabam frustradas. Ainda mais em pleno puerpério, momento tão delicado na vida de qualquer mulher.
Apesar de os estudos demonstrarem que o apoio espontâneo é ainda mais eficiente, minha sugestão é começar a falar sobre o aleitamento materno ainda durante a gestação, seja com os profissionais que vão acompanhá-la, seja com seu companheiro, companheira, familiares e amigos. Amamentar nem sempre é tranquilo logo de cara e é bom estar consciente disso, é um processo de aprendizado e você não tem que passar por tudo sozinha. Se dizem que “é preciso uma aldeia para educar uma criança”, esta mesma ideia pode se aplicar à amamentação. Afinal, o desenvolvimento de qualquer ser humano tem seus primeiros passos no peito da mãe.
Roberta Vieira - 31/03/2023
Que texto incrível! Parabéns pelo trabalho. Sou fonoaudióloga e trabalho com adolescentes em sofrimento psíquico. Sempre penso que muitas das "minhas" adolescentes serão mães. Meu trabalho é, al de olhar para elas, preparar maternagem que um dia virá... e cuidar da constituição linguistica dos bebês que virão. É assim, um trabalho de promoção de saúde. Me identifiquei muito com seu texto e sua trajetória.
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