Mãe-Estar

junho 15 2021, 22:10

Como fica o casal quando o filho nasce?

Por mais difícil que seja encarar, a relação de um casal muda com a chegada de um filho. Não digo para pior ou para melhor, mas muda. Se antes vocês tinham tempo de sobra para um curtir o outro e para si mesmos, agora existe uma terceira pessoinha aí, que demanda cuidados e atenção total. E, como cada indivíduo carrega suas próprias crenças e vê a maternidade/paternidade de um jeito distinto, até por ter uma história de vida diferente, não raro, aparecem os conflitos.

Sem contar que, com frequência, a balança na hora de medir as responsabilidades não é tão equilibrada. “Mesmo que a gente esteja em 2021, que os pais estejam mais participativos, a carga mental e de cuidados ainda fica muito em cima da mulher. Muitas vezes, a mulher sente que não está sendo ajudada, que o homem não está participando. E essas questões também trazem discordância.

Não ter responsabilidades divididas de forma igualitária acaba trazendo muitas mudanças e muitos ressentimentos para o casal”, conta a Dra. Andrea Lorena Stravogiannis, psicóloga e neuropsicóloga, coordenadora do setor de pesquisa e tratamento sobre amor e ciúme patológicos do Ambulatório dos Transtornos do Impulso (PRO-AMITI) do Instituto de Psiquiatria da USP. Tudo fica ainda mais abalado quando a tensão encontra o cansaço causado pelas noites mal dormidas.
Segundo a Dra. Andrea, muitos destes ressentimentos não são resolvidos e acabam aparecendo um tempinho depois. “Por isso, não é incomum o casal se separar quando o filho tem nove meses, um ano. Porque havia muita coisa não dita. Fica parecendo que a culpa do fim do casamento é do nascimento do bebê, mas na verdade, tem muito mais a ver com a forma com que estes adultos lidaram com as dificuldades de entrar uma terceira pessoa nessa relação”, explica a psicóloga. Quando chega o segundo filho, o impacto pode ser menor, mas também existe, pois são três pessoas tentando se adequar a uma quarta.
As dificuldades dos pais vão além. Muitos não consegue aceitar que precisam, pelo menos por um tempo, abrir mão da vida que tinham antes, como dormir até tarde, assistir ao que quiser, não ter que cuidar de alguém o tempo inteiro. E, se essas dificuldades não são expressadas e compartilhadas, fica ainda mais complicado lidar no dia a dia.

Comunicação é a base de tudo

É fundamental que o casal seja flexível e, ao mesmo tempo, resiliente. Para chegar a acordos que sejam satisfatórios para todos, a única solução é saber conversar.

De preferência, de maneira assertiva, ou seja, dizer o que você pensa de maneira firme, mas sem destruir a relação. Se estiver num período de maior ansiedade ou tristeza, é melhor deixar a poeira abaixar para conversar com mais clareza. “É importante que os pais estejam alinhados nas suas expectativas, saber o que um espera do outro, o que também esperam da criação”, conta a Dra. Andrea. Uma maneira simples de começar é discutir o que vocês querem fazer no dia a dia, como o tipo de fralda que vão escolher, a rotina do bebê, se vão fazer cama compartilhada ou não e por aí vai. Esses combinados do cotidiano podem evitar um desgaste enorme entre o casal.
Os assuntos mais complexos sobre criação (por exemplo, questões de religião, que tipo de escola é melhor, entre outros) também devem ser falados, por mais que, muitas vezes, se tenha receio de entrar em uma discussão por saber que o outro tem opiniões diferentes. Tomar decisões em conjunto faz parte da criação.

A seguir, veja outras formas de fazer o casamento sobreviver a esta fase tão nova e, ao mesmo tempo, tão desafiadora, que é a chegada de um filho na vida do casal.

  • Aceitar que mudou

Não adianta lutar contra a nova configuração da família. Entenda que toda situação precisa de ajustes e adaptação. E que vocês agora são mais que um casal, são um time que está trabalhando por um bem comum e só quer o melhor para ele. Às vezes, na ânsia de fazer nossas vontades prevalecerem, sem perceber tratamos o outro como um “inimigo” a ser combatido.

  • Marcar hora para o sexo (ou só para ficar junto)

Isso tira um pouco da espontaneidade? Tira, sim. Mas sejam realistas. Com a rotina nova e tão agitada, se vocês deixarem o namoro para o acaso, para quando pintar a vontade, pode ser que nunca aconteça. Além disso, quando vocês marcam um dia para ficar juntinho — com ou sem sexo — consegue ajustar as suas expectativas, diminuindo as chances de frustração. Olha a comunicação de novo aí!

  • Fazer planos

Quando vocês eram namorados, com certeza fizeram diversos planos para o futuro. Pode ser que eles tenham mudado um pouco, que aquela viagem ao mundo de um barco tenha se transformado em outro tipo de jornada em terra firme, mas é importante não perder os planos futuros, de curto, médio e longo prazos de vista.

  • Manter a individualidade

Todo mundo precisa de seu momento para fazer o que gosta, seja praticar esportes, ter um hobby, ver amigos. Com acordos prévios, é possível que os dois tenham momentos para si mesmos, que são tão importantes para a saúde mental quanto os períodos em família.

  • Incluir o outro na rotina

Segundo a Dra. Andrea, muitas mulheres acabam se sobrecarregando por não incluírem os pais da criança na rotina. Ok, também é certo que muitos pais acabam se acomodando com essa posição. Mas é importante que os dois tenham tarefas com o bebê e lembrar-se de que cada um tem seu próprio jeito de cuidar — e aceitar isso!

  • Usar comunicação direta

Quer pedir algo para o parceiro? Fale objetivamente, sem indiretas e sem apontar erros do outro. Se você quer que certa coisa seja feita de uma maneira, explique suas razões e mostre como pode ser feito de uma forma melhor.

  • Não decidir pelo outro

Falta de comunicação pode levar a um fenômeno interessante e complicado: a síndrome da bola de cristal. Sabe quando você acha que sabe o que o outro está pensando e age em cima disso? Por exemplo, você não compra uma bebida X porque achou que o outro não ia gostar, quando, na verdade, ele até gostaria que você comprasse. Ou, então, quando um fala algo do tipo “Ah, eu não troquei a fralda porque você já reclamou uma vez quando eu troquei e coloquei a roupa errada”. Você não está na cabeça do outro pra saber. Então, se tiver dúvidas, pergunte.

  • Não fazer comparações

Seu parceiro não é igual ao da sua amiga, que parece que se preparou para ser pai a vida toda? Está tudo bem. Ele tem outro jeito de fazer as coisas. Comparar pessoas pode ser bem desgastante para o relacionamento e levar um a ficar frustrado e o outro a ter baixa autoestima, o que não ajuda nada em um casamento.

  • Resolver os problemas no presente

É importante resolver as questões o mais próximo possível dos acontecimentos. Nem sempre dá para resolver na hora, porque os nervos estão à flor da pele, mas é bom que eles sejam conversados o quanto antes, para não ficar guardando mágoas, que vão ser despejadas num momento totalmente aleatório.

  • Pedir desculpas

Por fim, é sempre bom lembrar: reconhecer seus erros também faz parte de uma relação saudável e madura.

Texto de:

Andrea Lorena da Costa Stravogiannis

Psicóloga, Doutora pela Faculdade de Medicina da USP, Coordenadora do grupo de pesquisa e tratamento sobre Amor e Ciúme Patológico no Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso (AMITI) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Mestrado em Ciências pela FMUSP (2010), Formação em Neuropsicologia pelo CEPSIC – USP (2016), especialista em Terapia Cognitivo Comportamental pelo AMBAN – FMUSP (2007) e especialista em Dependência Química pela UNIAD – UNIFESP (2007). Tem interesse nas áreas de Dependência Comportamental e Dependência Química, Terapia Cognitivo

Comportamental e Neuropsicologia.

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Roberta Vieira - 31/03/2023

Que texto incrível! Parabéns pelo trabalho. Sou fonoaudióloga e trabalho com adolescentes em sofrimento psíquico. Sempre penso que muitas das "minhas" adolescentes serão mães. Meu trabalho é, al de olhar para elas, preparar maternagem que um dia virá... e cuidar da constituição linguistica dos bebês que virão. É assim, um trabalho de promoção de saúde. Me identifiquei muito com seu texto e sua trajetória.

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